O autor brasileiro Thiago Souto conta uma bela história de ficção científica que tem como foco a música, família e sobretudo a solidão, com toques filosóficos em meio a vastidão do universo.
Roteiro
O enredo é bem simples e conta a história de um astronauta que está perdido no espaço a anos-luz da Terra; sua nave sofreu um acidente e teve graves avarias que devem ser resolvidas.
Contrastando com esta situação, o vemos em flashbacks sua infância e adolescência, sendo ensinado a tocar piano e sofrendo pressão por parte de sua mãe para se tornar músico.
O título da revista remete a um conjunto de peças de piano de mesmo nome, do compositor húngaro Béla Bartok, que contempla desde o mais básico até o concerto mais difícil, sendo muito usado na aprendizagem, o que concorda com a evolução do garoto, que ao passar do tempo se aprimora como pianista, chegando a tocar em quase todas as grandes orquestras do mundo antes mesmo de completar seus 17 anos.
Entretanto, quanto mais ele se desenvolvia como músico, menos interesse esta vida lhe despertava, levando-o a desistir completamente da carreira de pianista aos 18 anos, e aos 19 se exilando onde nenhum som se propaga.
No espaço sideral ele enxerga tudo como uma "melodia celeste", relembrando-o do passado que tanto lutou para esquecer. O autor faz um bela relação entre vida e morte/música e silêncio balanceando-as como a inserção de traço de um tom magenta rosado, destacando os sentimentos do protagonista e realçando sua relação íntima com a música.
Outra linda metáfora é a admiração que o astronauta tem com a estrela Sirius, pertencente a constelação de Cão Maior, que faz parte de um sistema binário, formado por Sirius A (que pode ser entendido na trama como a mãe do personagem) e Sirius B (o personagem principal); e no momento derradeiro da história, Sirius A (mãe) atrai Sirius B (filho) para que toquem uma sonata para quatro mãos, de Mozart, resolvendo seus conflitos e seguindo, juntas, pelo espaço.
Veredito
Mikrokosmos é uma HQ bem curta (eu a li em menos de meia hora), mas que carrega um peso existencial imenso, onde o autor cria uma narrativa repleta de sentimento e reflexões filosóficas, que são expressas especialmente pela arte, que com o uso de uma técnica primorosa nos transmite tudo aquilo que o protagonista esta passando. Thiago Souto, de forma minimalista, trafega entre o presente e o passado, sondando com precisão a mente do personagem, mostrando-nos sua frustração e o motivo de seu isolamento. Mikrokosmos é a materialização da expressão "imagem que se pode ouvir", ligando diretamente a música aos sentimentos, e mesmo com o uso de metáforas e abstrações não torna a leitura cansativa. A música como objeto transcendental que excede tempo e espaço nos lembra Interstellar, filme de ficção científica de Christopher Nolan, que tem o amor como elo intertemporal, que assim como a HQ também tem o tema familiar no eixo principal da trama.
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