Em uma época em que a globalização potencializa o poder destrutivo de pestes e epidemias, espalhando-as por todo o planeta e tornando-as quase incontroláveis, como é o caso do coronavírus, O Enigma de Andrômeda é um belo exemplo de que a ficção científica é sim um gênero que está a frente de seu tempo e que Michael Crichton é seguramente um gênio nesta arte.
O Autor
O escritor americano foi um dos mais populares de sua geração e começando pelo livro alvo desta resenha, seu primeiro romance sci-fi publicado em originalmente em 1968, emplacou diversos outros best-sellers como O Mundo Perdido e Jurassik Park, que futuramente virariam blockbusters nas mãos de Steven Spielberg, com quem também trabalhou em ER - Plantão Médico. Crichton, além de escritor foi roteirista, diretor e produtor de cinema, fazendo filmes como Westworld (1973) - posteriormente adaptado para uma série de TV no canal HBO por Jonathan Nolan e J.J. Abrams, além de Linha do Tempo, Congo, A Esfera, O 13º Guerreiro e, claro, O Enigma de Andrômeda.
Roteiro
Um satélite cai em uma pequena cidadezinha do Arizona numa noite fria e espalha uma praga misteriosa que dizima toda a população do local, exceto um idoso bêbado e um recém nascido, deflagrando a maior crise científica da história da humanidade. E a tensão já se faz presente logo nas primeiras páginas do livro, quando dois agentes do governo são enviados para investigar os acontecimentos e também acabam morrendo, quase que instantaneamente, deixando evidente que o inimigo invisível a ser combatido é extremamente letal.
Para descobrir o que é o agente patológico misterioso, causador das mortes, e desenvolver uma cura para a doença enigmática - se é que existe uma - o Projeto Wildfire é acionado e uma equipe de quatro cientistas se reúne em um complexo laboratório de pesquisas subterrâneo. As instalações do complexo são constituídas de cinco níveis, cada um mais rigoroso quanto às regras de limpeza que o anterior e hermeticamente fechados, afim de impedir qualquer contaminação das amostras coletadas do satélite, além de impedir que algum organismo consiga escapar do local e contaminar as pessoas na superfície.
O que se sucede é um thriller psicológico, com os quatro cientistas, Jeremy Stone – líder do grupo e bacteriologista; Leavitt – infectologista; Burton – patologista e Mark Hall – médico cirurgião, correndo contra o tempo e levando sues cérebros ao limite, trabalhando até 20 horas por dia, na tentativa de ligar os pontos e descobrir o que os dois sobreviventes têm em comum para neutralizar a ameaça microscópica.
Dessa forma, Crichton nos apresenta uma nova abordagem para a dúvida, que perdura a anos no imaginário popular, a respeito do encontro com uma provável vida extraterrestre, revelando um organismo microscópico, quase imperceptível, muito diferente dos aliens humanoides, de biologia complexa e sociedades altamente tecnológicas como vemos em várias obras da cultura pop.
É fácil repararmos que o livro tem uma embasamento científico muito apurado, com termos técnico-científicos próprios da biomedicina, bem complicados de entender a primeira vista e páginas inteiras de relatórios e gráficos, conferindo à obra um realismo aterrador, expondo e ilustrando os fatos de maneira quase documental. Tal proximidade com a realidade é explicada pelo fato de que, antes se tornar um dos grandes autores do século XX, Michael Crichton foi formado em medicina pela Universidade de Harvard, tendo publicado O Enigma de Andrômeda, seu primeiro livro, exatamente no período em que cursava a faculdade.
A riqueza de detalhes que Crichton insere na trama é fascinante, usando estudos reais para fundamentar os acontecimentos, aprofundando a leitura de um modo poucas vezes visto, citando os nomes das enzimas, substâncias, aparelhos, e até mesmo cientistas dá época, além de teorias como a do "Um Homem Só", que assegura que um cientista, homem e solteiro toma decisões de maneira mais lógica, caso os estudos no laboratório dêem errado.
Veredito
O Enigma de Andrômeda entra seguramente na lista de melhores obras de ficção científica da história, contando um enredo intrigante e extremamente imersivo. Seu detalhamento minucioso só aumenta o clima tenso que paira sobre o complexo laboratorial, e, apesar de ser muito cadenciado, podendo até incomodar leitores mais impacientes, a sensação de perigo iminente que o thriller psicológico de Crichton apresenta, deixa qualquer um na ponta da cadeira.
A escrita de Michael Crichton é bastante fluída, prendendo a atenção do leitor mesmo quando uma explicação longa e detalhada se faz necessária, sendo impossível ler apenas algumas poucas páginas. Seu capricho com termos científicos dá um toque de realidade à trama, já indicando a qualidade que suas obras futuras viriam a ter.
O Enigma de Andrômeda teve um grande impacto, não somente por se tratar de um organismo desconhecido vindo do espaço em plena exploração espacial, (uma das representações mais plausíveis de vida extraterrestre, diga-se de passagem), mas também porque apenas 67 dias depois Neil Armstrong, Buzz Aldrin e Michael Collins pousaram seus pés na Lua pela primeira vez, sem conhecimento algum do que encontrariam em solo lunar. Do mesmo modo, hoje em dia também sentimos sua influência, já que vivemos em tempos de pandemia, com o mundo sendo assolado por um vírus invisível a olho nu, fatal e incontrolável.
Tanta qualidade rendeu ao livro duas adaptações para o cinema, uma apenas dois anos depois do lançamento do livro, em 1971, dirigida por Robert Wise (O Dia Que a Terra Parou - 1951) e uma série de TV em 2008, dirigida por Robert Schenkkan, com Viola Davis no elenco.
6 JOIAS DO INFINITO
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