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Foto do escritorLeo C. Arantes

Vivemos no Aranhaverso e Ninguém Percebeu

Atualizado: 13 de jan. de 2021


Todos passamos por problemas, sejam financeiros, amorosos ou no trabalho. A verdade é que a "vida real" é bem mais dura do que imaginávamos quando éramos jovens, e quando crianças, se perguntados sobre o que queríamos ser quando crescêssemos, muitos responderiam que gostaria de ser o Homem-Aranha! E depois de anos lendo, assistindo e jogando várias obras do Teioso, posso dizer com convicção que sim, muitos de nós são Homens ou Mulheres-Aranha; seja de qual universo paralelo for.


Talvez o Homem-Aranha seja o herói que melhor sintetiza o ícone de herói do povo. Sempre presente nas ruas de Nova Iorque, o Cabeça de Teia é quem mais atende aos pedidos da população, seja dando informações a um turista desorientado ou ajudando uma idosa a atravessar a rua. A criação de Stan Lee e Steve Ditko é o personagem fictício que mais se aproxima de um herói “real”, crível, que poderia muito bem estampar as capas dos jornais novaiorquinos. Por mais que seu colante colorido e seu malabarismo ao se pendurar nos arranha-céus de Manhattan sejam admiráveis, é sua capacidade de se sacrificar pelo bem maior que mais se destaca. Revelando que o grande poder herdado por Peter não é o sentido de aranha ou a força equivalente à de um aracnídeo, mas o altruísmo; um poder muito mais humano, do que aranha.

E é justamente essa característica que o difere de tantos outros heróis. Ao contrário de deuses nórdicos, alienígenas com poderes quase ilimitados ou supersoldados criados pelo governo para combater o Nazismo, ele está preocupado com assaltos e roubos, problemas mais pé no chão, mais reais e próximos do nosso cotidiano, o que invasões intergaláticas e supervilões querendo dominar o mundo passam longe de ser; o que não o exime de se envolver em batalhas globais como no grande arco de Dan Slott à frente do personagem - quando as Indústrias Parker têm filiais em todo o mundo e dão suporte para o herói agir na China, no país fictício da Slorênia e muitos outros - ou até mesmo com o destino do universo, como no 19º filme do MCU, Guerra Infinita, quando vai para Titã lutar contra Thanos, e no caminho diz a Tony Stark, em outras palavras, que “não tem como ser o Amigão da vizinhança se não houver vizinhança”. Sua personalidade foi desenvolvida magistralmente ao longo de quase 60 anos, por roteiristas do mais alto escalão da Casa das Ideias, como o próprio Stan Lee, Roy Thomas e Chris Claremont (vou parar por aqui para não esquecer de ninguém), dando ao personagem características tão únicas no universo dos super-heróis, mas, paralelamente, tão comuns na vida real. Sua vida emocional é bem mais complexa e trágica do que da maioria dos heróis mainstream (nem Batman e Flash sofreram tanto quanto Peter Parker), tendo o caráter moldado muito em função da perda dos pais, de Gwen Stacy e tio Ben.

Aprendendo logo cedo que nem sempre é possível salvar a todos, Peter segue em frente, sem deixar de ser quem é, nunca perdendo o senso de humor. Mas também já desistiu de tudo algumas vezes, como em Homem-Aranha Nunca Mais de 1967 e adaptado para os cinemas no segundo filme da trilogia de Sam Raimi, nos ensinando que até mesmo heróis podem desistir de lutar. Sua resiliência é posta a prova frequentemente, com inúmeros problemas surgindo ao mesmo tempo, tanto heroicos, como pessoais. Seu relacionamento conturbado com Mary Jane, cheio idas e vindas; a amizade com Harry Osborn, ora íntima, ora abalada por revelações bombásticas; seu bico/emprego como fotógrafo do Clarim Diário e a ojeriza de seu chefe, J Jonah Jameson por seu alter ego super-heroico, são algumas das muitas situações em que Peter Parker se assemelha conosco; ainda mais quando, mesmo em meio a tanta adversidade, continua se preocupando com o próximo, sempre mantendo o senso de humor e enfrentando o problema de peito aberto.


A diversidade do Aranhaverso e suas dezenas de versões alternativas é a clara manifestação da diversidade do mundo real, e explicita ainda mais a possibilidade de haverem heróis “a paisana” em cada esquina, independente de cor da pele, opção sexual, forma física ou qualquer outro esteriótipo que lhe seja imposto; milhares, se não milhões de “pessoas-aranha” pelo mundo, tem feito a coisa certa, porque, simplesmente, é a coisa a certa a se fazer.


Prova real da existência desses heróis, independentes de etnia, sexualidade ou idade é a história do garotinho Bridger Walker, de 6 anos, que teve seu rosto desfigurado após ser mordido por um cachorro para salvar sua irmã de apenas 4 anos. Após o caso que gerou comoção em todo o planeta e levou inúmeros famosos a parabenizar o pequeno, ele foi perguntado o porque de ter se arriscado para salvar a vida da irmã e a resposta foi simples: "Se alguém tivesse que morrer, eu pensava que deveria ser eu". Como disse o próprio Peter Parker em Terra X, aclamada saga de 2000, “é a responsabilidade que traz poder. Saber o que precisa ser feito é que dá força e coragem”. Seja um adolescente negro latino-americano, uma jovem loira, um homem branco com seus 30 e poucos anos, ou quem quer que seja, será bem representado pelo Homem-Aranha.

“Aquela pessoa que ajuda os outros simplesmente porque deveria ou precisa ser feito, e porque é a coisa certa a fazer, é sem dúvida, um super-herói de verdade.”  Stan Lee
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